A idéia deste blog é apenas repercutir alguns textos e imagens (não necessariamente inéditos, mas que me interessam) com o humilde desejo de compartilhar com pessoas que por ventura venham a se interessar também.
Entre meio a inúmeros compromissos reais e onlines, vez ou outra tentarei postar algo interessante por aqui. Desfrute!

27 de outubro de 2010

Educação dos nossos filhos


"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim ele saberá o VALOR das coisas e não o seu PREÇO"

Autor: não sei

18 de outubro de 2010

Agora nosso papel é fiscalizar os eleitos

Ótima matéria do jornal Estado de Minas de 17/10/10 e apropriada para o período pós-eleições:

"Agora, é fiscalizar os eleitos

Depois da votação do dia 3, papel dos eleitores passa a ser o de monitorar o trabalho dos seus representantes no Legislativo. Melhor caminho para isso continua sendo pela internet

Alice Maciel

Depois de uma legislatura marcada por inúmeros escândalos envolvendo deputados federais, estaduais e senadores, o eleitor, que acabou de ir às urnas para escolher seus novos representantes, deve estar se perguntando: o que fazer agora para fiscalizar o trabalho dos candidatos eleitos? Pela internet, por meio de sites do Ministério Público, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos tribunais regionais eleitorais (TRE) e até da Câmara dos Deputados, do Senado e das assembleias legislativas, o cidadão pode acompanhar o desempenho dos parlamentares e denunciar, reivindicar os direitos, opinar e dar sugestões de projetos de lei. Para o diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Abramo, o papel fundamental do eleitor é procurar se informar.

“É comum dizer que o brasileiro vota mal. Mas de onde ele tira informações sobre os candidatos? A consciência do voto depende da qualidade da informação e, por isso, nosso papel é organizar e apresentar esses dados de forma inteligível para o eleitor, para que ele não fique perdido”, diz. O projeto Excelências, realizado pela ONG e disponível no site www.excelencias.org.br, é destacado pelo diretor como um meio para que o cidadão adquira informações sobre os parlamentares. Ele traz o histórico dos políticos brasileiros no Congresso, nas assembleias, nas câmaras de capitais e também dados sobre os governadores, num total de 2.368 políticos, além de relacionar reportagens sobre escândalos de corrupção.

Na opinião do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, os brasileiros ainda não têm a cultura de participar da política do país, mas ele acredita que no futuro vai ser diferente. “As escolas hoje em dia estão ensinando mais sobre isso às crianças”, afirmou. Segundo ele, à medida que os parlamentares tiverem consciência de que os cidadãos estão monitorando suas ações, eles vão ficar mais preocupados na hora de cometer alguma irregularidade.

O ex-ministro considera de extrema importância para a democracia não só que os eleitores acompanhem o mandato do candidato pela internet, jornais, mas também se comunique em com eles. A Câmara dos Deputados tem o serviço ao cidadão. Basta um cadastro no site para o eleitor receber informações quinzenalmente via email sobre os deputados federais de seu interesse, tais como discursos, notícias, movimentação parlamentar, votações, proposições apresentadas e relatadas. O cidadão ainda pode se comunicar com o deputado por meio de um cadastro disponível na página.

Também na Câmara existe a ouvidoria parlamentar, responsável pela comunicação entre a Casa e a sociedade. Sugestões e críticas podem ser feitas por meio do ouvidor responsável – hoje, o deputado Mário Heringer (PDT-MG). Ele tem a função de encaminhar as manifestações ao presidente da Câmara, aos líderes dos partidos e aos parlamentares, para que tenham ciência da opinião da sociedade sobre determinado tema. A comunicação pode ser feita via e-mail ou por telefone. Todos esses serviços da Câmara estão disponíveis em uma página na internet criada para o cidadão chamada e-democracia. Nesse site, o interessado ainda tem acesso aos projetos de lei e pode participar de um fórum de discussão com diversos temas relacionados à Casa.

O Senado também dispõe de ferramentas para o cidadão acompanhar a atividade legislativa da Casa. Entre eles está o Fale com o Senado, em que o internauta pode enviar sua mensagem e ter acesso a opiniões de outras pessoas por meio do Voz do Cidadão.


Ficha Limpa As assembleias legislativas não fogem desta linha de comunicação com o cidadão. Elas oferecem ouvidorias e serviços para as pessoas mandarem mensagens, críticas, sugestões para os deputados. O ouvidor da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o deputado Wander Borges (PSB), afirmou que recebe todos os tipos de solicitação por meio da ouvidoria. “Desde sugestões para os deputados, informações em relação aos projetos em tramitação e ainda problemas pessoais”, disse.

O cientista político Rubens Figueiredo afirma que apesar de pesquisas mostrarem que mais de 50% dos eleitores esquecem em quem votaram depois que as eleições passam, ele acredita que a cultura da população brasileira em querer se informar e participar da política está aumentando. “Uma prova disso foi o projeto da lei Ficha Limpa, de iniciativa popular”, afirmou. Ele associa este avanço à maior facilidade de acesso à internet."

Como ficar de olho no seus representantes:

Câmara dos Deputados - www.edemocracia.camara.gov.br/publico
Senado - www.senado.gov.br
Assembléia de MG - www.almg.gov.br

Fonte: jornal Estado de Minas, Política, pág 8, 17/10/10

As mães não deveriam morrer - por Eliane Brum


Belíssimo texto de Eliane Brum em sua coluna semanal (18/10/10):

"Resta-nos o movimento que transforma dor em saudade

Uma amiga perdeu a mãe, de repente. A notícia me alcançou por e-mail, agora que a internet deixou o mundo pequeno. Estou longe, mas também aqui, neste lugar sem distância que é o mundo virtual. Mas com tempo veloz, em que uma hora pode ser um pretérito definitivo na disputa pela supremacia dos segundos. Como era antes, quando as notícias levavam meses para chegar e o mundo sobre o qual falavam já tinha inteiro se transmutado, quando as cartas eram sempre um retrato do passado? Agora tudo é agora. E os tempos se confundem de outro modo. Mas se confundem.

Senti tanto o desamparo da minha amiga, porque sei que as mães não deveriam morrer. Na mesma noite sonhei com meus mortos. Meu avô sentava-se com minha avó ao redor da mesa da cozinha como antes e como nunca, porque meu avô sabia que minha avó tinha morrido e eu sabia que meu avô tinha morrido uns 20 anos depois dela. E uma quarta pessoa, desconhecida de todos nós reunidos naquela cozinha, sabia que eu também já tinha morrido, numa outra época que ainda não chegou para mim. Mas comíamos bolinhos de chuva naquela mesa porque compreendíamos que, no curto espaço de existência, neste soluço entre o nascimento e a morte que pertence a cada um de nós, nem os sonhos devem ser desperdiçados. E ali, enquanto eu dormia num quarto de hotel, éramos uma impossibilidade lógica que conversava e que ria.

Quando perdemos alguém que amamos, a dor é tão extravagante que nos come vivos, como se fosse uma daquelas formigas africanas que vemos nos documentários da National Geographic. A dor está lá quando acordamos. Continua lá quando respiramos. Nos espreita do espelho diante do qual escovamos os dentes pela manhã com um braço que pesa uma tonelada. E, quando por um instante nos distraímos, crava seus dentes bem no coração. Neste longo momento depois da perda, sabemos mais dos buracos negros do que os astrônomos porque carregamos um dentro de nós. E arrancamos cada dia nosso do interior de sua boca ávida, com uma força que não temos, para que não nos sugue de dentro para dentro.

Devagar, bem devagar, muito mais devagar do que o mundo lá fora nos exige, o vazio vai virando uma outra coisa. Uma que nos permite viver. Descobrimos que nossos mortos nos habitam, fazem parte de nós, correm em nossas veias fundidos a hemácias e leucócitos. Que suas histórias estão misturadas com as nossas, que seus desejos se deixaram em nós. Que, de certo modo, somos muita gente, multidão. Como também nós seremos em muita gente, deixando, em cada um, ecos de diferentes decibéis e intensidades. Acolhemos então aquele que nos falta de uma forma que nunca mais nos deixará. Como saudade. E como saudade não poderá mais partir.

Somada, a vida humana é um rio barulhento de memórias no leito do tempo. Enquanto outras espécies sabem, sem que ninguém tenha ensinado, que precisam voar para o sul para não sucumbir no inverno ou que devem escalar dezenas de metros de uma árvore em busca da fêmea para se acasalar num momento preciso, nós perpetuamos lembranças. Não é uma intuição prática, no sentido ordinário do termo. Mas é tão vital quanto o acasalamento ou a fuga do inverno.

Assim como a natureza tece mil expedientes para perpetuar seus genes, pertençam eles a um chimpanzé ou a uma mosca; nós, cuja diferença evolutiva nos permitiu inventar a cultura e ser na cultura, perpetuamos a vida através da memória. Já que, para nós, não há vida sem a consciência da vida. Transmitimos as histórias, o conhecimento e os sentimentos dos que se foram, tanto como humanidade quanto como indivíduo, como se fossem parte de um DNA imaterial. Do contrário, seria impossível conviver com o privilégio de nossa espécie, a consciência do fim.

Quem não entende isso acha que, quando doamos as roupas e os objetos de quem amamos e se foi ou deixamos de chorar no cemitério, superamos a perda. Não acredito que exista superação no sentido do esquecimento. O que acontece é que compreendemos que aquela pessoa não estará mais no mundo externo, não pertence mais a ele. Mas também não é mais um vazio que grita como nos primeiros meses, às vezes anos. Ela agora mora no mundo de dentro, vive como memória nossa, em nós. E assim não está mais morta, mas viva de um outro jeito. É o que me ensina João, o homem que divide comigo a aventura arriscada de viver. De luto por sua própria mãe, percebo que a carrega nos olhos quando se maravilha com a novidade do mundo.

Ele me ensina que a vida dos mortos em nós não é possessão nem fantasma. Nem é morte. O mórbido é quando não conseguimos dar um lugar vivo para o morto. Então a memória fica pregada naquele momento de horror e a vida se torna impossível, porque a existência não é água parada, mas rio que corre. Acontece quando alguém, pelos mais variados motivos, não consegue fazer o luto e dar um lugar de saudade para a dor. Quando nos fixamos, num dogma ou numa falta, partes importantes de nós gangrenam. Mas quando os mortos se acomodam em nós como lembrança que muda segundo o viver de quem vive, tudo flui. Se há algo que a vida é em essência é movimento. E o luto é um movimento que reabre as portas para a vida ao romper com a rigidez da morte em nós. Por isso, para o luto não pode haver pressa, porque é grande e largo o gesto que temos de fazer acima e apesar do horror que nos atinge até mesmo em partes que nem sabíamos que existiam.

Quando perdeu a mãe, João compreendeu por completo a poesia que Carlos Drummond de Andrade escreveu para a poeta Ana Cristina Cesar, que se suicidou aos 31 anos atirando-se pela janela do 13° andar. Ela fala da diferença entre falta e ausência. “Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.” É isso. A ausência não é falta. Ou, dito de outro modo, a falta nos come vivos. A ausência, por paradoxal que pareça, nos preenche.

Há um filme de extraordinária beleza sobre a perda, a saudade e o lugar dos mortos em nós. Chama-se “Hanami – Cerejeiras em flor” (Doris Dörrie, 2008 – Alemanha/França). Passou nos cinemas, ainda resiste numa sala ou outra, mas já assisti ao filme na TV por assinatura. Se você encontrar este nome na programação, não deixe de ver. Feche as cortinas, proteja-se do barulho da rua, programe-se para algo especial. O filme conta a história de um homem que não gosta de sair da rotina em sua viagem mais longa e menos previsível. Ele parte em busca de sua mulher e só a encontra quando descobre que ela está dentro dele, nos gestos dele, no corpo e nos olhos que ele empresta a ela. É um filme sobre a morte que nos leva ao único lugar onde vale a pena chegar, à vida.

Quando sofremos uma grande perda ou somos abalroados por uma catástrofe pessoal de outro gênero, as pessoas dizem, para nos consolar e com as melhores intenções, que tudo passa. Acho que, na verdade, nada passa. A frase mais precisa seria que tudo muda. Também nós que aqui estamos como matéria um dia seremos apenas eco. Tanto pelas nossas células que alimentam e se agregam a outros seres vivos a partir da decomposição de nosso corpo como pelas histórias que transmitimos e permanecem além de nós. Aquela que fui ontem já mudou, a ruga que há um ano não existia agora é visível na pálpebra direita, minha percepção do mundo não é mais exatamente a mesma do mês passado, alterada por novas experiências que me alargaram. De certo modo, nascemos e morremos tantas vezes até o fim da vida. E é este o movimento que importa.

Queria dizer isso à amiga que perdeu a mãe de repente. Mas agora minha amiga ouve, mas não pode escutar. A dor a está comendo viva como as formigas africanas. Tudo é horror e absoluto. Mas com o tempo, um período só dela e que não pode ser determinado em parte alguma nem por ninguém, minha amiga vai começar a perceber que a mãe é uma ausência presente no formato das suas unhas, num certo jeito de mexer a cabeça quando fala, na tonalidade rara dos olhos. Está nas palavras e nas histórias que conversam dentro dela, na mitologia familiar que se perpetua, nos sons da memória. E então poderá reencontrar a mãe dentro dela. E levá-la para passear.

E, num dia que sempre chega, viverão as duas como história, como cacos de lembranças encaixados em diferentes rearranjos de vitrais, na vida dos que vieram depois. É pouco, talvez. É tudo o que temos."

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI180063-15230,00-AS+MAES+NAO+DEVERIAM+MORRER.html